O complexo religioso de Coricancha (Qorikancha) na capital inca, Cuzco, era considerado o Templo do Sol. Era um local muito sagrado ou huaca na religião inca, e também era considerado o centro do mundo inca. Este local também era conhecido como Recinto Dourado e era dedicado aos principais deuses do panteão inca, como o deus criador Viracocha, a deusa da lua Quilla e, principalmente, Inti, o deus do sol.
Hoje pouco resta destas estruturas, exceto algumas partes de suas finas paredes de pedra que mostram o que antes eram muralhas. As histórias lendárias contam que havia uma enorme quantidade de ouro utilizada para decorar os templos como um jardim dourado.
Se você puder visitar apenas um local em Cuzco, recomendamos que você visite este antigo templo do sol que atualmente faz parte da igreja colonial e do convento de Santo Domingo. Antigamente, o que era o templo mais rico do império Inca resiste hoje apenas como paredes de pedra.
O templo de Santo Domingo foi construído em meados do século XV, durante o reinado do décimo Inca, Túpac Yupanqui. Após a conquista, Francisco Pizarro o presenteou a seu irmão, Juan, que o legou aos dominicanos, e sua posse permanece até hoje.
O local como o conhecemos hoje é uma rara combinação de arquitetura inca e colonial, coroada com um teto de vidro e metal. Nos tempos incas, Qorikancha, “Templo Dourado” em quéchua, estava literalmente coberto de ouro. As paredes do templo estavam revestidas com cerca de 700 folhas de ouro maciço, cada uma pesando aproximadamente 2kg.
Havia réplicas de milho em ouro e prata em tamanho real, que eram cerimoniosamente “plantadas” em rituais agrícolas. Tesouros em ouro maciço, como altares, lhamas e bebês também foram relatados. Também foi encontrado uma réplica do sol que, poucos meses após a chegada dos primeiros conquistadores, essa incrível riqueza foi roubada e derretida.
Vários outros rituais religiosos ocorriam neste templo. Dizem que os corpos mumificados de vários incas (antigos reis) eram mantidos alí, trazidos para banhos de sol diariamente com oferendas de comida e bebida, que depois eram queimadas em rituais. Qorikancha também era um observatório onde os principais sacerdotes observavam as atividades celestes.
A maior parte dessas histórias deixamos de acordo com a imaginação do visitante de hoje em dia. As estruturas remanescentes neste local são consideradas como os melhores exemplares da arquitetura inca do Peru. Uma parede curva com 6m de altura, encaixada com perfeição, pode ser vista de dentro e de fora do local. Este muro resistiu a todos os terremotos violentos que destruíram a maioria das construções coloniais em Cuzco.
Uma vez dentro do templo, você acessa um pátio. Uma fonte octogonal no centro estava originalmente coberta com 55kg de ouro maciço. Os cômodos incas estão localizadas em ambos os lados do pátio. Diziam que os maiores, localizados a direita, eram templos da lua e das estrelas e estavam cobertos com folhas de prata maciça.
As paredes vão se estreitando de baixo para cima em uma angulação perfeita. As cavidades e portas são um excelente exemplo da arquitetura trapezoidal Inca. O formado dos blocos individuais é tão preciso que em algumas partes você não consegue ver onde um bloco termina e o próximo começa.
Em frente a esses cômodos, do outro lado do pátio, ficam os templos menores dedicados ao trovão e ao arco-íris. Três buracos foram escavados nas paredes desta seção em direção à rua, os estudiosos acreditam servirem para drenagem. No momento de sacrifícios, quando jogavam chicha (bebida de milho fermentada, a cerveja inca) ou sangue e, em outros casos, água da chuva.
Outra possibilidade seria servirem como conexão da parte interior a parte exterior do templo. Outra característica desta parte do complexo é o piso em frente aos cômodos: data da era inca e é cuidadosamente pavimentada com pedras.
Pinturas coloniais ao redor do pátio representam a vida de Santo Domingo e contêm várias representações de cães carregando tochas em suas mandíbulas. Estes são os cães guardiões de Deus (dominicanus em latim), daí o nome dessa ordem religiosa.
Projeto e arquitetura de Qoricancha
A construção do complexo normalmente é atribuída ao Inca Pachacuti Yupanqui, o nono governante inca (1438-1471 dC) que iniciou um projeto de reconstrução na capital. No entanto, apesar das buscas em escavações, a cronologia exata deste lugar não foi descoberta até hoje. Na mitologia inca, o primeiro líder inca Manco Capac (Manqo Qhapaq) construiu um templo no local no início do século XII e a arqueologia mostra evidências de estruturas anteriores ao império.
A disposição das estruturas, vista de cima, parecia um sol com seus raios brilhando em todas as direções. Estas foram as sagradas linhas de ceque (zeq’e), caminhos físicos e cósmicos, dos quais 41 deles conduziam a 328 lugares sagrados impressionantes.
Cuzco em si foi deliberadamente projetado para representar uma jaguar e Coricancha estava na cauda. Na típica simetria inca, o segundo local sagrado mais importante da cidade é Sacsayhuaman, localizado a frente, na cabeça. Coricancha também foi construída onde os dois grandes rios da cidade se encontravam, rio Huatanay e Tullumayo.
“AS PORTAS ERAM COBERTAS POR LAMINAS DE OURO, ASSIM COMO O INTERIOR E EXTERIOR DOS TEMPLOS. ALÉM DISSO, SE DIZIA QUE O INTERIOR DA MURALHA QUE CONTORNAVA O TEMPLO ERA COBERTA POR ESMERALDAS”
Os muros foram construídos usando as finas habilidades para alvenaria pelos quais os incas se tornaram conhecidos. As muralhas do complexo foram construídas com grandes blocos de pedra finamente talhadas e sustentadas estruturalmente sem argamassa, somente por seu encaixe perfeito e inclinação. A grande parede ocidental curvada se destacava particularmente por sua forma elegante.
A maioria das paredes possui inclinação negativa observadas desde a base até o topo, uma característica típica da arquitetura inca. Muitas portas e janelas trapezoidais permitiam que a luz entrasse nos espaços internos, e uma larga faixa de ouro foi adicionada entre as paredes.
As estruturas internas tinhas apenas um pavimento com telhados de palha. As portas também estavam cobertas com laminas de ouro, assim como o interior e exterior de vários templos. Também se dizia que a parte interna do muro perimetral era coberto de esmeraldas.
Templo do Sol em Qoricancha
O templo mais importante do complexo era o Templo do Sol, dedicado ao Deus Inti. As paredes internas e externas do templo estão localizadas no canto norte do complexo. Estas paredes foram cobertas com ouro e consideradas como o suor do sol, que foi lapidado em laminas para suas paredes. Segundo relatos, havia 700 folhas de ouro, quadradas, de meio metro, pesando 2 kg cada uma.
Dentro do templo, além dos objetos de ouro com função de adoração ao deus, há uma estátua de ouro de Inti encrustada com jóias. A estátua representava Inti como uma criança sentada chamada Punchao (sol do dia ou meio-dia). Os raios de sol brilhavam em sua cabeça e ombros, ele usava uma coroa real e tinha cobras e leões saindo de seu corpo.
O estômago da estátua era oco, usado para guardar as cinzas dos órgãos vitais dos governantes incas anteriores. Todos os dias essa estátua era levada para fora voltando ao santuário todas as noites. Outra representação importante do deus é uma máscara gigante com raios em zigue-zague que brotava da cabeça, pendurada na parede de um aposento especial dentro do templo.
O jardim do templo foi uma homenagem lindamente dedicada ao Deus Sol Inti. Assim como terrenos e às vezes até regiões inteiras eram dedicadas ao Deus. Tudo nele era feito em ouro e prata. Uma grande plantação de milho e estátuas em tamanho real de pastores, lhamas, onças, jaguares, porquinhos da índia, macacos, pássaros e até borboletas e insetos eram feitos à mão em metais preciosos.
Como se isso não fosse suficiente para agradar a Inti, também haviam muitos jarros de ouro e prata incrustados com pedras preciosas. Tudo o que sobrevive dessas maravilhas são algumas hastes de milho dourado, como um testemunho convincente e silencioso dos tesouros perdidos de Coricancha.
Outros templos dentro de Qoricancha
Outros cinco templos ou Wasi se localizam ao redor da praça principal de Coricancha. Hierarquicamente, havia um templo dedicado ao deus criador Viracocha (mais ou menos igual a Inti), outro a Quilla, a deusa da lua, outro para Vênus ou Chaska-Qoyur, outro para o deus do trovão Illapa e, finalmente, um para Cuichu, que é o deus do arco-íris.
Assim como o templo Inti estava coberto de ouro, o templo Quilla estava coberto de prata, o metal que se acreditava ser a lágrima da lua. Cada wasi (casa em quechua) continha uma estátua para o culto a esse deus em particular, com preciosa arte e objetos religiosos relacionados a eles.
Havia também um espaço dedicado aos restos mumificados dos antigos imperadores incas e de suas esposas, conhecidos como mallquis. Eram retirados de seu local somente durante cerimônias especiais, como as realizadas durante os solstícios. Se faziam oferendas a essas múmias vestidas com roupas finas. Em sua homenagem eram lidos seus grandes feitos durante o reinado para que todos pudessem ouvir.
Havia também casas para padres, sacerdotisas e outros aposentos do complexo eram usados para tesouros artísticos e religiosos, com muitos artefatos retirados dos povos conquistados. É muito provável que eles tenham sido guardados para garantir a união com o governo inca, da mesma forma que os governantes capturados às vezes foram feitos como reféns em Cuzco durante anos.